Joanne Harris esteve nos Açores, em 2006, e apaixonou-se pelo arquipélago, descobrindo as ilhas da fantasia da sua juventude no meio do oceano Atlântico.
Leia a primeira parte do artigo que a romancista escreveu para o Daily Telegraph e acompanhe a escritora nesta viagem inesquecível.
Desde sempre me senti fascinada por ilhas. Quanto mais pequenas e remotas melhor. O meus livros preferidos estavam cheios delas – desde Robinson Crusoé a The Search for Atlantis – e passava a maior parte das aulas de Geografia a desenhar furtivamente ilhas imaginárias (e, é claro, desertas), com vulcões, cavernas de piratas, baús de tesouros e águas infestadas de tubarões – ingredientes familiares para quem cresceu com os romances de Jules Verne, Herman Melville e Willard Price.
Por isso, é com uma estranha sensação de déjà-vu que aterro com a minha filha Anouchka de treze anos em São Miguel, a maior ilha dos Açores, um arquipélago com nove ilhas vulcânicas estendidas ao longo de 600 quilómetros no meio do oceano Atlântico, como se fossem um colar fabuloso.
As ilhas formam três grupos; São Miguel e Santa Maria a leste; o grupo central com a Terceira, a Graciosa, São Jorge, Pico e Faial; e Flores e o Corvo a oeste. Do ar elas são exactamente como as imaginava; a ver-se a espuma do mar nas pontas; salpicadas de vulcões de todos os tamanhos (alguns ainda a fumegar); e enormes áreas de um verde fabuloso.
As chegadas no aeroporto são tranquilizadoramente calmas. Apesar de uma descrição dos Açores parecer uma lista das “Dez Coisas Mais Fixes que se Podem Encontrar num Lugar” feita pela Anouchka (um sol fantástico, vulcões em actividade, baleias assassinas, lagos de lama a borbulhar, nadar com golfinhos, plantações de ananás, um mar mais azul do que o que se vê nos filmes e a emocionante possibilidade de se ver uma caravela-portuguesa, a medusa mais mortífera dos oceanos), o turismo ainda parece ter tido pouco impacto na ilha. A vida aqui desenrola a um ritmo lento; os visitantes são genuinamente bem-vindos; há pouca animação nocturna e quase nenhuma criminalidade; e as viagens de curta duração e a sua informalidade são uma magnífica mudança das excursões nas costas de betão de Espanha, em as pessoas são tratadas como gado.
A nossa viagem passa por três das nove ilhas: São Miguel, Faial e Pico. São Miguel é a maior, e a sua capital, Ponta Delgada, recebe a maior parte dos visitantes. É encantadora, e parece a Madeira como eu a imagino que tenha sido há cinquenta anos, com a sua marina, o castelo, as suas ruas com calçadas e palmeiras, o seu mercado e lojas e os pequenos cafés acolhedores. E se isto é a capital, adorava ver as zonas rurais; as horas de ponta duram cinco minutos, e nunca tinha visto condutores tão corteses.