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Ago 12

Enquanto escrevia Sapatos de Rebuçado apercebi-me de que estava a abrir um precedente perigoso. Nunca é fácil para um escritor revisitar as personagens que criou – o tempo muda-nos a todos e às vezes é mais fácil não olhar para trás. Mas, quando acabei o livro, apercebi-me de que o que fiz foi pior do que isso; tinha escrito o segundo volume do que seria uma trilogia. Mesmo agora, não estou inteiramente convencida de que Vianne não está inteiramente acabada para mim – talvez haja mais sobre ela um dia destes (ou talvez sobre Anouk e Rosette), estamos ligadas, ela e eu, de formas que não compreendo inteiramente. Estou ligada a todas as minhas personagens, é claro, mas de alguma forma Vianne Rocher é a que aparece sempre inesperadamente, envolvendo-me nos seus assuntos (muitas vezes contra a minha vontade) e exigindo o meu tempo e a minha atenção.

Em Sapatos de Rebuçado, encontrámos Vianne quatro anos depois dos acontecimentos descritos em Chocolate. A morar em Paris sob um nome falso, com a sua filha Anouk e uma outra, Rosette, de quatro anos, Vianne parece ter perdido tanto o seu rumo como a sua identidade. Mas graças a Zozie de l’Alba, um espírirto livre perverso com um apetite pelas vidas de outras pessoas, Vianne foi finalmente forçada a confrontar o seu inimigo e os seus medos. Deixei-a em Paris com as filhas e Roux, uma vez mais reconciliada consigo própria, em paz com o passado e meio convencida de que tinha conseguido encontrar uma forma de assentar…

Mas com Vianne as coisas nunca são fáceis. Sempre soube que o vento voltaria a soprar. Também sabia que Lansquenet ainda não tinha acabado para nenhuma de nós. E Vianne, como eu própria, tende a ser especialista em fazer precisamente o que tinha prometido não fazer – neste caso, regressar a Lansquenet. A questão nunca foi se, mas quando. Há correntes a que não se consegue resistir.

Era apenas uma questão de tempo.

publicado por Rita Mello às 12:30

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