23
Set 10

 

Quando a minha mãe morreu, deixou a quinta ao meu irmão Cassis, a fortuna da adega à minha irmã Reine-Claude, e a mim, a filha mais nova, deixou-me o álbum. Uma distribuição de riqueza um pouco desigual.

E, como o Cassis dizia sempre, eu era a preferida.


Framboise regressa à pequena cidade onde nasceu, na província francesa, e abre um restaurante que rapidamente se torna famoso, graças às receitas de um velho álbum que pertencera à sua mãe. Essa espécie de diário contém igualmente uns estranhos apontamentos cuja decifração lançará uma nova luz sobre os acontecimentos dramáticos que marcaram a sua infância nos dias já longínquos da ocupação nazi.

A Framboise restam as recordações dos sabores e sentimentos da sua infância numa França marcada pela dor e pela penúria da guerra, mas também a memória do episódio que marcou a vida da família e constituiu, para ela, a perda definitiva da inocência. Agora, sem que se faça anunciar, a hora de enfrentar a terrível verdade chegou.

Entre passado e presente, a história de Framboise impregna as páginas com os aromas, as cores e sabores da vida no campo e, tal como as receitas que lhe couberam em herança, traz-nos à memória a liberdade e audácia da infância.

Um livro para ser saboreado.

publicado por Rita Mello às 11:58

27
Mai 09

Acho que é o Cinco Quartos de Laranja, especialmente por causa da Framboise, a personagem principal. Foi muito divertido escrever sobre ela e gostei muito da personalidade dela; aquela sua atitude de ou-fazemos-como-eu-quero-ou-então-não-fazemos. Gostei também de escrever como uma pessoa de idade, porque há poucas na ficção e porque é raro desempenharem papéis interessantes. Queria desafiar o sentimento geral de que as pessoas de idade não têm paixões, de que não se apaixonam, de que são pacientes, sábias e resignadas com o seu eventual destino. Framboise é tudo menos isso: ela não é muitas vezes uma pessoa fácil, mas é uma mulher de fibra e, apesar de ter passados por experiências terríveis, nunca se perdeu enquanto pessoa. Tive também a oportunidade de escrever sobre ela enquanto criança; mas ela é uma criança estranha, selvagem e independente, muito diferente da maioria das descrições de crianças na literatura. Gosto de criar personagens imperfeitas porque as considero mais interessantes; Framboise tem muitos defeitos, e está consciente deles, mas mesmo assim gosto dela e estou satisfeita por lhe ter encontrado um final feliz no qual eu própria podia acreditar.

publicado por Rita Mello às 14:36

13
Fev 09

“Embrenhei-me completamente neste livro, ao ponto de o ler quase de um fôlego. Mais uma vez Joanne Harris cria um livro cheio de cor e sabores que nos deixam inebriados. Ler os Cinco Quartos de Laranja é como ficar submergido numa poça de alperce e framboesa, um consolo para os sentidos. A ideia de nos conquistar com receitas deliciosas já não é nova na autora, mas é sempre bem-vinda.”

Constelação das Letras

 

“Um livro que prende pelo detalhe, pelas descrições minuciosas, como é apanágio da autora, se no Chocolate conseguíamos sentir o cheiro e o sabor do chocolate, neste podemos sentir os aromas do campo francês, dos cozinhados, das especiarias... e sobretudo, das laranjas.

Este é um excelente livro, muito bem escrito, que nos consegue prender do início ao fim da história.”

O que é o Jantar?

 

“Fascinei-me com Cinco Quartos de Laranja. Adorei a história, mas mais do que tudo gostei de descobrir como a mãe de Framboise Dartigen foi escrevendo, com letra miudinha, segredos e pensamentos da sua vida entre as receitas.”

Cinco Quartos de Laranja


Acabei ontem à  noite de ler Cinco Quartos de Laranja de Joanne Harris. Simplesmente fascinante e até um pouco doloroso. Retrata épocas difíceis, de muita dor e traição. É mesmo muito bom e agora que acabei de ler, aconselho irremediavelmente.”

Esquilazul

 

“Do livro gostei, como se gosta dos livros que se lêem bem, que nos cativam e nos mantêm presos. Ontem não resisti às últimas cento e poucas páginas e só apaguei a luz quando li a última.”

Rosa Carne

publicado por Rita Mello às 14:32

12
Fev 09

Carla Herman:

Acordei hoje nas nuvens: pura necessidade de ter ASA (Ops! não uma! mas duas, é claro), e depois voar e observar nas ruas: as casas, nas avenidas: as CARAS (estarão a sorrir como eu?) Mas e quando me cansar de tanta sensação? Escondo-me no meu jardim secreto, bebendo com os olhos o Vinho Mágico (Blackberry Wine) de JOANNE HARRIS.

Joana Isabel Gomes:

Tal como um avião sem ASA ou pessoas sem CARAS, assim seria a minha estante sem os livros de JOANNE HARRIS

 

Ana Cláudia Lopes:

JOANNE HARRIS escreve com o coração: os livros podem ter muitas CARAS, mas os melhores são aqueles que dão ASA(s) à nossa imaginação.

 

Mais informações sobre este passatempo aqui.

publicado por Rita Mello às 16:34

Quando a minha mãe morreu, deixou a quinta ao meu irmão Cassis, a fortuna da adega à minha irmã Reine-Claude, e a mim, a filha mais nova, deixou-me o álbum e um jarro de dois litros contendo uma escura trufa Périgord do tamanho de uma bola de ténis, suspensa em óleo de girassol que solta ainda, quando aberto, o rico e húmido odor do solo da floresta. Uma distribuição de riqueza um pouco desigual, mas a mãe foi sempre uma força da natureza, concedendo os seus favores como lhe apetecia, não deixando transparecer os trâmites da sua lógica peculiar.

 

E, como o Cassis dizia sempre, eu era a preferida.

 

Não que ela alguma vez o tivesse mostrado enquanto era viva. Para a minha mãe nunca havia tempo para indulgências, mesmo que fosse desse género. Não com o marido morto na guerra, e com a quinta para cuidar sozinha. Longe de sermos um conforto na viuvez, éramos um estorvo para ela, com as nossas brincadeiras barulhentas, as nossas lutas, as nossas discussões. Se ficávamos doentes, cuidava de nós com um carinho relutante, como que a calcular os custos da nossa sobrevivência, e o amor que mostrava, manifestava-se nas formas mais elementares: tachos que nos dava para rapar, tachos de doce para rapar os restos, uma mão-cheia de morangos silvestres apanhados na fronteira emaranhada por trás do quintal, entregues num lenço torcido sem um sorriso sequer. O Cassis era o homem da casa. Mostrava ainda menos suavidade com ele do que connosco. A Reinette começou a atrair olhares antes da adolescência, e a minha mãe era suficientemente vaidosa para sentir orgulho com a atenção que ela recebia. Mas eu era a boca a mais, não era nenhum segundo filho para expandir a quinta e não era certamente nenhuma beleza.

 

Fui sempre a mais desordeira, a que discordava sempre, e depois da morte do meu pai tornei-me rabugenta e rebelde. Magrinha e escura, como a minha mãe, com mãos compridas e deselegantes, os pés chatos e uma boca larga, devia lembrar-lhe demasiado dela própria, porque quando olhava para mim havia sempre uma tensão na boca, uma espécie de aprovação estóica, de fatalismo. Como se previsse que seria eu, e não o Cassis nem a Reine-Claude, quem manteria viva a sua memória. Como se tivesse preferido um recipiente mais apropriado.

 

Continue a ler Cinco Quartos de Laranja aqui.

publicado por Rita Mello às 10:31

10
Fev 09

 

Surpreenda a sua cara-metade com o pack exclusivo da Joanne Harris com os romances Cinco Quartos de Laranja e Vinho Mágico que a ASA e a Caras têm para lhe oferecer. Saiba tudo sobre este passatempo aqui.

publicado por Rita Mello às 11:17

Framboise regressa à pequena cidade onde nasceu, na província francesa, e abre aí um restaurante que rapidamente se torna famoso, graças às receitas de um velho caderno que pertencera à sua mãe. Essa espécie de diário contém igualmente uns estranhos apontamentos cuja decifração lançará uma nova luz sobre os dramáticos acontecimentos que marcaram a infância da protagonista nos dias já longínquos da ocupação nazi. Framboise recorda os sabores e os sentimentos da sua infância, numa França marcada pela dor e pela penúria da guerra, e muito especialmente um episódio que marcou a vida da família e constitui, para ela, a perda definitiva da inocência. Agora, já no Outono da vida, chegou a hora de enfrentar a difícil verdade.

Um explosivo festim para os sentidos. Um romance de sensações de doces memórias, que nos revela mais um pouco do mundo de Joanne Harris.

publicado por Rita Mello às 11:03

05
Jan 09

Há cerca de um ano, por altura da edição de Sapatos de Rebuçado, a Waterstone's Books Quarterly publicou uma excelente entrevista com a Joanne Harris, que vos reproduzo em baixo.

 

 

Os livros de Joanne Harris são como o chocolate negro – doces e intensos – e a sequela de Chocolate é um dos seus mais ricos até ao momento.

 

Apesar de Chocolate não ter sido o primeiro romance de Joanne Harris a ser publicado – essa honra pertence a The Evil Seed, lançado cerca de dez anos antes – foi aquele que a introduziu no imaginário do público comprador de livros e que lhe trouxe um enorme sucesso que continua desde então. Agora, oito anos depois, Joanne Harris regressa ao mundo de Chocolate e às personagens Vianne Rocher e à filha Anouk em particular, no seu mais recente romance, Sapatos de Rebuçado. Joanne Harris teve sempre a intenção de escrever uma sequela da sua obra mais famosa?

 

“Não de todo”, refere a escritora a partir da sua casa em Huddersfield. “Em primeiro lugar, não considero que seja uma sequela, e apenas teria escrito uma continuação se já soubesse o que ia acontecer. Acho que precisava que passasse um certo tempo antes de ter outra história para escrever sobre estas personagens.”

 

publicado por Rita Mello às 14:53

26
Dez 08

Muitos leitores assumem que os meus livros são autobiográficos. Isto não é verdade, apesar de a minha escrita reflectir por vezes o que me está a acontecer nessa altura. Enquanto escrevia Cinco Quartos de Laranja, eu estava a sofrer de enxaquecas e de insónias, e isso transpareceu vividamente na história. Em Chocolate e Na Corda Bamba apareciam mães trabalhadores com filhas novas, em ambos os casos constrangidas por algum tipo de instituição – o que reflecte o meu próprio papel dúplice como professora na Leeds Grammar School e como mãe de uma criança pequena. Nem sempre estou consciente de que estou a fazer isto, nem de que tenha sido de propósito, mas acontece; e muitas vezes são estes os aspectos dos meus romances com que os leitores mais se identificam. Apesar das histórias poderem ser ficcionais, os sentimentos dentro delas – quer sejam eles o ódio, o amor, a inveja ou a necessidade desesperante de uma boa noite de sono – são meus. Não consigo escrever sobre coisas acerca das quais não tenho sentimentos fortes, e é por isso que escolho cenários familiares para as minhas histórias e as povoo com personagens meio familiares.

 

Escrevo pelos menos três esboços para cada romance. O primeiro é para consumo próprio, o segundo vai para a minha agente e o terceiro vai com as sugestões, críticas e alterações que os meus vários editores e leitores me enviaram. Às vezes discordo deles, e nesse caso não faço nenhuma alteração. No início, mudava alguns aspectos da minha escrita para facilitar o processo de publicação, e desde essa altura que me arrependo disso; agora arrisco mais e sigo mais depressa os meus instintos. Gosto de arriscar na narrativa. Prefiro manter o enredo do romance flexível, daí que raramente tenha toda a história planeada. Detesto escrever sinopses – apesar de os editores quererem sempre ver uma – porque raramente tenho informações suficientes sobre os meus livros para poder explicar o que vai acontecer no final. Frequentemente, as reviravoltas e revelações de última hora nos meus livros apanham-me tanto de surpresa como ao leitor. Adoro quando isso acontece, porque é sinal de que as personagens, e não o autor, apoderaram-se do livro. Por outro lado, torna-se mais difícil para mim estruturar a obra final.

 

Ainda escrevo largamente por prazer. Acho alguns dos aspectos não criativos do trabalho aborrecidos – coisas como a revisão e a edição – e tendo a ser impaciente com isso, porque tiram-me tempo àquilo que eu gostaria de estar a fazer, que é escrever histórias. Eu executo estas tarefas administrativas em dias em que não me consigo concentrar no processo criativo, ou em alturas do dia em que sei que já esgotei a minha inspiração. Acabo de trabalhar por volta das três da tarde. De qualquer forma, já não consigo pensar bem nessa altura e preciso de descontrair antes de a minha filha chegar a casa da escola. Tento não trabalhar quando ela está em casa; e quando ela está de férias eu só trabalho até à hora de almoço e depois passamos o resto do dia juntas. O tempo é um bem tão precioso, e nós temos tão pouco. Ao final da tarde gosto de descontrair na banheira – o único sítio onde consigo ler sem ser interrompida – com algumas velas aromáticas e uma garrafa de vinho. Não se isso faz parte ou não do processo criativo – mas, de qualquer forma, é a desculpa que eu dou.

publicado por Rita Mello às 16:21

22
Dez 08

O meu dia normal começa por volta das sete da manhã. Não consigo ficar na cama – fui professora durante tantos anos que ainda acordo automaticamente, quer queira ou não. Não funciono bem de manhã sem chá, por isso faço algum e levo-o para a biblioteca. É aí que eu gosto de trabalhar; é um sítio calmo e tem uma vista maravilhosa, apesar de ainda estar a habituar-me a ter um sítio só para mim. Durante muito tempo não tive uma secretária e costumava escrever num portátil no chão da sala de estar. Actualmente, ainda uso um portátil e ainda trabalho no chão, apesar de já ter uma secretária. É uma secretária de escola da época vitoriana, com um tinteiro e um tampo, e é ridiculamente pequena. Toda a gente se ri dela, mas acho que me fica melhor do que uma secretária séria, com um mata-borrão e um fax.

 

O meu trabalho rende mais de manhã, especialmente no Verão. No Inverno fico deprimida e letárgica, sendo muito difícil para mim trabalhar, por isso grande parte do meu trabalho é realizado entre Março e Novembro. Sou muito sensível ao tempo e às estações, e isso afecta o modo como (e se) trabalho. Não fico angustiada com isso; consigo ver geralmente em meia hora se o meu dia vai ser produtivo, e se não estiver com vontade, não trabalho. Em vez disso, vou ao ginásio ou vejo um filme ou então vou dar um passeio a pé. Não conto as páginas que faço e não trabalho seguindo um horário de trabalho. No entanto, fico muito nervosa quando não escrevo, ou não o consigo fazer. A minha motivação tem a ver com necessidade e não com disciplina. Detesto prazos e faço de tudo para os evitar, é por isso que sou tão reservada em relação ao meu trabalho em progresso, até mesmo para a minha agente.

 

Desde que escrevi Chocolate, que foi quando deixei a docência, que publico um livro por ano. Isso não quer dizer que escreva um livro por ano – alguns levam mais tempo do que outros, e, de qualquer modo, os meus livros nem sempre foram publicados pela ordem de escrita. Por exemplo, comecei a escrever Na Corda Bamba antes ainda de Chocolate, e ia pegando nele e pondo-o de lado durante cinco anos até achar que me sentia pronta para o terminar. Vinho Mágico e Cinco Quartos de Laranja também não foram publicados pela ordem de escrita. É muito comum ter vários projectos a decorrer ao mesmo tempo. Posso estar a trabalhar numa coisa durante um par de meses e depois mudar para outra completamente diferente – ou porque preciso de fazer alguma pesquisa, ou porque preciso de mudar de ares, ou apenas porque não sei o que vai acontecer a seguir. Tenho um par de projectos onde me posso refugiar quando necessito de uma pausa do meu trabalho em progresso, e que podem nem sequer ser entregues à minha editora. No entanto, acho que esta alternância me ajuda a manter a concentração no trabalho, bem como a manter a minha mente flexível.

 

Às vezes apetece-me fazer algo mais pequeno ou completamente diferente. Os contos são um excelente meio para manter estes impulsos sob controlo, e é por isso que os meus abrangem tantos temas – do western à ficção científica. Costumo escrever mais coisas deste género durante o Inverno, e é por isso que muitos deles são sombrios e selvagens. Ou talvez seja apenas a minha maldade intrínseca a procurar um escape.

 

São poucas as ideias que vêem ter comigo enquanto estou à secretária. Geralmente sou eu que vou ter com elas – quando estou a viajar ou, simplesmente, a falar com pessoas e a ver o que fazem. Os comboios e os aeroportos são muito bons para isto; e ando sempre com pequenos blocos de nota nos quais aponto o que vi ou ouvi. Eu acho as pessoas tremendamente fascinantes, e um dos aspectos maravilhosos deste trabalho é a oportunidade que me dá de conhecer diferentes tipos de pessoas em ambientes bastante variados. No entanto, o processo de escrita é essencialmente solitário. Se tiver de ser, consigo escrever em comboios, aeroportos e, até mesmo, no quarto de brincar da minha filha, mas prefiro fazê-lo quando estou sozinha.

 

Sendo linguista e compositora, sou sensível às notas e aos ritmos das palavras, ao comprimento variável das frases e aos sons característicos de diferentes vozes. Algumas palavras soam-me muito mal e eu não as uso – os meus editores americanos pedem-me muitas vezes para mudar algumas palavras e expressões para a edição americana, mas às vezes acho que alguns americanismos estão desajustados em relação ao resto, e eu não gosto de fazer essas alterações. Leio muitas vezes as minhas páginas em voz alta; é a única forma que tenho de saber se realmente consegui evocar o que pretendia; se uma frase soa mal quando lida em voz alta eu livro-me dela.

publicado por Rita Mello às 16:56

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